Sábado, 28 de Maio de 2005
Baixo o olhar
Desvio-o da luz
Donde irrompe silhueta multiforme
Cuja sombra não ofusca deslumbrante corpo
Onde pousam parcos tecidos de ceda
Que permitem alimentar a imaginação
Do intelecto mais vazio
Movimenta-se em sintonia do brilho
Que resplandece do reflexo da sua pele
Levemente coberta com translúcidos combinados
Que enfatizam as suas formas
Transportando-me para o mais original dos desejos
Conquista
Sedução gratificante e envolvente
Ergue-se o olhar
Lábios que sorriem
Emoção que exalta instintivamente
Cruzam-se os olhares de cumplicidade
Do jogo da vida
Sinto o odor que os seus cabelos emanam
A textura da sua derme
As proeminências que me tocam o peito
E me levam, primariamente, a gritar de êxtase
Cortinados ilusórios
Imaginação carente
Que se deixou enganar novamente
Por cobertura de janela
Que visa impedir olhares indiscretos
Daquilo que não queremos que seja visto
E muito mais se vê
Terça-feira, 24 de Maio de 2005
Sei
Sabemos
Que um sentimento arrasta outro
Que dele se alimentam e crescem dezenas de universos sentimentais dos quais, quase nunca, a nossa consciência têm a percepção que seria de desejar para os captar a todos e proteger-se de eventuais efeitos colaterais
Sei que a minha demonstração de estado pouco claro
Obscurece outros
Transportando-os para um desses mundos
Alimentando sentimentos descontrolados
Por descontrolada se encontrar a essência emocional de cada um dos que se deixa iludir com divagações da palavra e conduzi-la no sentido que mais favorece aquilo que no momento se procura
Cada palavra que escrevo não procura afectar sentimentos que se prendam ao lado físico que se sabe existir por detrás de quem as escreve
Ao lado terno e misterioso que se adivinha pela enigmática verbalização das coisas
Também não sei ao certo se tenho o direito de pretender algo com elas
Sei que necessito de o fazer
Desejava não manietar ninguém quando as escrevo
Amava saber que deliciavam alguns espíritos
E que
Ao invés de os limitar a um ser único
Os confiassem á liberdade da sua imaginação
Sentindo-se livres para florir
Só por si
Em qualquer canto deste pequeno mundo
Para que a minha flor despontasse sem que a arrancassem pela raiz
Segunda-feira, 23 de Maio de 2005
Renascer das cinzas que do fogo lavrou em mim
Reconstruir uma memória sem elas
Conceber novo brilho
Nos olhos que se começam a abrir novamente
Acolher este mundo novo
Que se deparou perante mim
Após tão apoteótica catástrofe
Seguir o caminho das estrelas
Viajando num cometa qualquer
Certo que um dia sem memória
Colidirei com ele
No planeta que me espera
Tomando consciência desse momento
Através de um pequeno manuscrito
Que deixei ao vento algures neste
Beijei-o na despedida
Beijá-lo-ei no reencontro
Quinta-feira, 19 de Maio de 2005
Enclausurado entre algo que desconheço
Falta-me o ar não precisando dele
Sinto-me pálido, frio e duro
E o que me envolve vai aquecendo
Humedecido sinto que estou
De liquido que não é meu
Mas do que me compõe
Decompondo