Foto: Gabriel Rigon
Acordei da noite
Ainda entorpecido da imobilidade a que me sujeita
Mergulho o rosto na água benta que, milagrosamente, acorda o que dorme em mim
Abro os braços
Elevando-os para o horizonte que espreita pela janela
Penetrando através de sólidos e transparentes vidros
E que, indiscretamente, me toca
Elevando-me serenamente com o intuito de me levar a conhecer o mundo que é
Aberta a porta, deparo-me com uma imensidão de luz
A visão de um imensurável mar que sempre me acompanhou
Mas que nem sempre me deu a alegria que seria de esperar
Quando mais nada se espera de nós
Exigimos dos outros aquilo que nós próprios não alcançamos
Inabilidade
Deixo então que me leve
Vejo o solo e não o piso
Rompo o, agora, frio e cortante ar
E está quente o que sou
Continuo o périplo que me foi ternamente oferecido
Pela vida me desloco
Sempre
levitando nos seus braços
Sinto o seu pulsar
E, do seu, bate o meu